sexta-feira, 27 de julho de 2012

Térmitas mais velhas são enviadas para confrontos suicidas com bombas tóxicas


Trabalhadoras azuis (bw) com uma risca azul no início do abdómen, trabalhadoras brancas (bs) e um soldado da espécie Neocapritermes taracua (R. Hanus)

Trabalhadoras azuis (bw) com uma risca azul no início do abdómen, trabalhadoras brancas (bs) e um soldado da espécie Neocapritermes taracua

À esquerda uma trabalhadora azul depois de uma luta e de o abdómen ter rebentado, à direita uma trabalhadora azul com o cristal retirado, que está ao ladoScience

Trabalhadoras azuis (bw) com uma risca azul no início do abdómen, trabalhadoras brancas (bs) e um soldado da espécie Neocapritermes taracua

Fotografia de microscópio electrónico do cristal azulR. Hanus

As trabalhadoras de uma espécie de térmita que existe na América do Sul têm um “saco” nas costas onde acumulam um cristal azul que serve de bomba tóxica durante confrontos suicidas que acontecem na velhice, mostra um estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira.

Depois de uma vida a trabalhar, não há reforma para as velhas Neocapritermes taracua. Estas térmitas passam de cozinheiras (vão buscar o alimento à natureza, digerem-no e a “papa” resultante torna-se a refeição da colónia) a velhinhas kamikazes que lutam contra térmitas inimigas. 

Esta mudança de profissão com a idade está longe de ser única e ocorre em outras espécies deste grupo de organismos. Mas, uma equipa de investigadores do Instituto de Química Orgânica e Bioquímica da Academia de Ciências da República Checa e da Universidade Livre de Bruxelas descobriu uma arma inusitada para os confrontos.

“É um sistema que tem dois componentes”, explica Yves Roisin, um dos autores do artigo, que pertence à Universidade Livres de Bruxelas. “A ‘mochila’ é o componente que fica fora do corpo, que contem um par de cristais azuis e dentro do abdómen [da trabalhadora] há uma acumulação de secreções produzidas pelas glândulas salivares”, diz o investigador numa entrevista feita para um podcast da Science.

Os cristais estão guardados num “envelope” externo ao corpo. Este saco desenvolve-se a partir da película externa das costas do abdómen, e os cristais são produzidos por outra glândula e são, depois, injectados nesta bolsa. 

Quando lutam contra outras espécies de térmitas e são mordidas, a parte do abdómen rebenta, as secreções que estavam acumuladas dentro do corpo libertam-se e misturam-se com o cristal azul, o que faz produzir uma solução branca que é tóxica para as térmitas que estão em volta. Como se vê no vídeo.


É um acto suicida, mas resulta: dos 40 confrontos testados pela equipa, 26 térmitas inimigas morrem, 11 ficam paralisadas e só três é que sobrevivem sem danos. 

A equipa de cientistas verificou que à medida que as trabalhadoras vão envelhecendo e as suas mandíbulas vão ficando menos afiadas e mais gastas, os cristais azuis acumulam-se neste envelope externo. Além disso, as trabalhadoras velhas são as térmitas que são enviadas mais vezes para fora da colónia para armazenar comida. Por isso, explica Yves Roisin, têm de enfrentar com mais frequência outras térmitas.

De acordo com a investigação, é a reacção química entre o cristal azul e a secreção que produz a componente tóxica que mata os inimigos. A equipa chegou a esta conclusão comparando as trabalhadoras que têm os cristais, e que por isso são chamadas de azuis, com as trabalhadoras brancas, que não produzem os cristais. 

As térmitas brancas envolvem-se menos em lutas e, no laboratório, quando os cientistas as colocaram a lutar e o abdómen rebentou, causaram muito menos mortes. Por outro lado, as térmitas azuis também se tornaram muito menos letais quando os cientistas retiraram os cristais azuis. Mas, finalmente, quando acrescentaram cristais azuis às trabalhadoras brancas, a substância resultante tornou-se muito mais tóxica.

A análise dos cristais mostrou que continham uma percentagem de cobre. Mas a equipa ainda não sabe qual é a reacção química envolvida e qual o composto resultante que é tão eficaz. “Um sistema com dois componentes não é nada comum nos insectos e não conheço nenhum animal que tenha um dos componentes fora do corpo”, diz Yves Roisin.

O próximo passo passa por tentar compreender a origem evolutiva desta bomba química e identificar a reacção em causa, diz o cientista: “Estamos a tentar perceber o que se passa nas espécies parentes e de onde vem este sistema de defesa.”

fonte: Público

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